8A Madeira

O blog 8A Madeira assume-se como um blog de divulgação dos trabalhos de pesquisa levados a cabo pelos alunos da turma A do 8º Ano da Escola Básica e Secundária Dª Lucinda Andrade, em São Vicente, Ilha da Madeira na aula de SMS- Madeira. É um espaço de partilha e divulgação de ideias aberto à comunidade escolar local e global.

4 de janeiro de 2007

Breve História do Concelho de São Vicente


As Riquezas e Importância do Norte

A História do município de S. Vicente poderá ser descrita em poucas palavras. As lacunas do arquivo local, associadas ao menosprezo da documentação geral da ilha por esta vertente norte, fizeram com que parte desse registo do quotidiano dos nossos antepassados se apagasse da memória escrita. A primeira situação não deverá ser alheia às revoltas de 1868 e 1924 que, a exemplo da popular Maria da Fonte, tiveram como alvo preferencial a documentação municipal onde se guardava o registo das dívidas à fazenda. A par disso esta região norte foi sempre considerada uma área marginal em relação ao principal centro do palpitar sócio-económico madeirense, dominado pela vertente sul.

As dificuldades de acesso por mar e terra a esta vertente norte e os parcos recursos, para a afirmação plena da economia açucareira e viti-vinícola, definiram o secular abandono a que foi votado pelo que só raramente merece a atenção do escriba oficial. Esta região quase que não passava de uma coutada dos senhores de Machico, donde retiravam o gado e as necessárias madeiras e lenha que nos séculos XV a XVII alimentaram os engenhos do sul.

A monografia escrita em 1944 por A. A. Sarmento para comemorar o segundo centenário da elevação deste lugar a vila testemunha esta triste realidade. Aquilo que o autor conseguiu reunir resume-se a algumas generalidades. E hoje, passados cinquenta anos dapara-se-nos a mesma dificuldade.

Não se sabe ao certo quando começou o povoamento da encosta norte da ilha. As dificuldades de penetração, por via marítima e terrestre, terão sido factor de ponderação para os possíveis interessados e actuaram, de certeza, como entrave à sua humanização. Mesmo assim, Álvaro Rodrigues Azevedo refere que São Vicente foi freguesia desde 1440. É provável que desde meados do século XV tenham afluído a esta encosta norte alguns povoadores que traçaram os novos povoados nas clareiras abertas. S. Vicente foi sem dúvida o primeiro logo seguido de Ponta Delgada. Boaventura deverá ser lugar de assentamento muito mais recente e nunca assumiu a importância das anteriores.O facto do lugar se encontrar a meio caminho na ligação à vertente sul pelo Curral das Freiras terá propiciado a sua valorização.

O concelho dispõe de um vasto espaço na sua maioria coberto de floresta. Deste modo a área agrícola é reduzida sendo complementada, em termos de recursos, pela utilização complementar da outra em termos do aproveitamento das madeiras e lenhas ou do pastoreio.

A importância agrícola da vertente norte da ilha assentou, no princípio, nas culturas de subsistência, que asseguravam as necessidades dos colonos aí instalados e um suplemento que era escoado para a vertente sul. Gaspar Frutuoso, em finais do século XVI, dá-nos conta desta situação. Assim, quando refere as duas freguesias do concelho, ainda que laconicamente, diz que em Ponta Delgada "vinhas e criações e lavrança de pão e frutas de toda a sorte" e para S. Vicente "grandes terras de lavrança de pão, e criações e muitas frutas de castanha, noz e de outra sorte, muitas vinhas...". Em ambas as freguesias é já manifesto a importância que assumia a viticultura referindo apenas "muitas vinhas". Todavia será no decurso do século XVIII e XIX que esta última cultura assumirá uma posição dominante na economia do concelho.

A valorização desta função de celeiro é bem patente com a casa de António Carvalhal. De acordo com Gaspar Frutuoso ele gastava mais de trinta moios anuais, para além do muito que cedia de empréstimo ou em socorro dos necessitados, e acrescenta o autor citado que todos estes moios "recolhe de sua lavoura". Os conventos funchalenses fruíam de inúmeros foros em cereais. Aqui é de destacar os da Encarnação e Santa Clara. Este último tinha um granel na Vila, defronte à cadeia, onde os foreiros iam a depositar os seus foros.

Foi, todavia, com a cultura da vinha e cana de açúcar que o norte da ilha adquiriu alguma importância no contexto da economia agrícola. A vinha terá surgido desde muito cedo, adquirindo já em finais do século XVI alguma importância, como o testemunha Gaspar Frutuoso.

A cana de açúcar só assumirá alguma importância a partir de finais do século XIX com o novo incremento, mercê da crise agrícola da ilha e da aposta numa variedade de culturas com interesse para activarem o comércio externo.

A partir do século XVIII a vertente norte da ilha era já uma importante área produtora de vinho. As vinhas plantavam-se por todo o lado e cresciam entrelaçadas no arvoredo. Este sistema era conhecido como balseiras. Tendo em conta as condições agro-climáticas da área o vinho que saía à bica do lagar não era de grande qualidade, quando comparado com o da vertente sul. Por isso, desde o século XVIII, somos confrontados com um activo boicote das gentes do sul ao vinho do norte.

Este conjunto de medidas proteccionistas do vinho da vertente sul mostram quão importante foi nesta época a área viti-vinícola do norte. Por outro lado atestam a prática corrente de imediato envio do mosto, que não aguardava a fermentação nas lojas do norte. Isto, porque muitos proprietários residiam na cidade e aí tinham os seus armazéns. Os colonos não tinham meios para tal e por isso vendiam o seu mosto à saída do lagar.

O boicote ao comércio do vinho do norte nos portos do sul, a cada vez mais existência de excedentes levou as gentes do norte a buscar soluções para escoamento do seu vinho. Surgiu, assim, a prática de alambicar estes vinhos transformando-os em aguardente, para consumo corrente e uso no tratamento dos do sul.

Deste modo podemos afirmar que o desenvolvimento do Norte esteve quase sempre à mercê dos caprichos e interesses do Sul. Esta situação viu-se agravada pela Geografia que sempre foi madrasta para o ilhéu e, especialmente, os nortenhos. Os desafios do futuro apontam para um abrir de novas perspectivas e a quebra das assimetrias.

Recolha retirada do site http://www.ceha-madeira.net

Pesquisa efectuada por astronomo e berg bmx.

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